AURORA

Castro Alves (1847-1871)

Salve, aurora! Eia, refulge!
Eia! anima valles, montes!
Hymnos canta, o Philomela,
Hymnos jucundos, insontes!

Eia! Surge, vivifica
Pendentes ramos, aurora!
Aureos fulgores emitte,
Pallidas messes colora!

Protege placidos somnos
Inquietas mentes tempera.
Duras procellas dissipa,
Terras, flores refrigera!

Extingue umbrosos vapores,
O sol, o divina flamma!
Lucidas portas expande
Tristes animos inflamma!

Lege hos versos lingua Lusitana et deinde sermone Latino, accento tantum transposito.
(Leia estes versos em português e depois em latim, com o acento um tanto transposto,)

Na língua na qual, quando imagina,
Com pouca corrupção, crê que é a latina.
(Camões, Os Lusíadas, I,33)

FONTE:
M. Mechtildis Dengg, "Antologia Pusilla"
Ed. Melhoramentos, 1954, p. 148

Tradução do português de ontem para o português de hoje:

O NASCER DO DIA

Viva o nascer do dia! Viva ! Brilha intensamente!
Dá vida aos vales e aos montes!
Canta canções, ó rouxinol, (*)
Canções alegres, inocentes.

Viva! Aparece, dá vida
Aos ramos pendentes, ó nascer do dia!
Envia raios dourados,
Dá cor aos pálidos campos!

Protege os sonos tranquilos,
Acalma as mentes perturbadas.
Dissipa as duras tempestades do mar,
Campos, refrescai as flores.

Acaba com a escura neblina,
Oh sol, divina chama.
Abre as portas cheias de luz,
As almas tristes inflama!

---------------------

(*) Philomela: na mitologia grega, uma princesa ateniense que foi raptada por seu cunhado Tereus e depois vingada e transformada em um rouxinol.